quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SOBRE A CPMF E O PODER DA MÍDIA

"Veja o poder da mídia. As classes patronais fizeram com que as pessoas que não pagavam e que eram beneficiadas pelo imposto ficassem contra a CPMF. Sabe por que essa sanha contra a CPMF? Quando regulamentamos a contribuição, a Receita Federal foi proibida de cruzar a informação do Imposto de Renda, mas Everardo Maciel, então secretário da Receita, decidiu cruzar as informações e encontrou o seguinte: dos cem maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pagado Imposto de Renda. Tinha microempresa (que por definição não pode movimentar mais que 120 mil reais por ano) que movimentava 100 milhões de reais. Aí permitiram cruzar as informações. O que aconteceu? A arrecadação federal passou de 6 bilhões, 7 bilhões de reais por mês para 21 bilhões, 22 bilhões. É evidente que gente que nunca pagou Imposto de Renda queira acabar com a CPMF. Aí fizeram uma brutal campanha nacional e convenceram até quem era beneficiado pelo imposto. Se pegar o sujeito que ganha salário mínimo ele é contra, mas quem ganha salário mínimo não paga. Uma vez discuti com esse presidente da Fiesp (Paulo Skaf), que comandou esse processo, tomara que ele um dia chegue a administrar para ver como são as coisas. Disse a ele: "Vocês não querem pagar imposto, esse é o grande problema". A carga tributária brasileira é muito mal distribuída. É predominantemente sobre produtos, bens e serviços, que estão na planilha de custo da empresa. A companhia não paga um tostão, repassa ao consumidor final. Além disso, um terço é de encargos da Previdência Social. Se esse um terço for excluído da conta, a carga baixa para 24%, bem menor do que a da maioria dos países. E se a gente considerar ainda a sonegação ... Aí está a explicação para a brutal desigualdade no Brasil." (Adib Jatene em entrevista a Carta Capital, n. 578, 13/01/2010, págs. 49 e 50)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SOBRE O ETHOS NEOLIBERAL

"(...) ethos neoliberal, imperante no mundo nos últimos anos, que promoveu a ética intolerante dos vencedores, aquela que não deixa ao desamparado, ao inferiorizado, senão a alternativa de massacrar a própria autoestima. 'A individualização' do fracasso, inscrita nos pórticos da concorrência desaçaimada, não permite ao derrotado compartilhar com os outros um destino comum provocado pela desordem do sistema social. O reconhecimento social é uma preciosa forma de remuneração não monetária. E essa retribuição torna-se cada vez mais escassa quando o desemprego e a desigualdade prosperam em meio a uma eufórica comemoração do sucesso do indivíduo." (BELLUZZO, Luiz Gonzaga. Não percamos o espírito crítico. Carta Capital, 13/01/2010, pág. 53)